terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Programa ambiental da Inglaterra estimula carro elétrico

"São carros elétricos, energia eólica e aproveitamento da água da chuva. Investimentos em tecnologia para um mundo mais limpo crescem ano após ano.
Marcos Losekann
Eastbourne, Inglaterra
Alguns países começam a mudar a história. Um exemplo é a Inglaterra. No passado, foi responsável por uma imensa quantidade de emissões tóxicas à atmosfera. Hoje, tem um dos programas ambientais mais ousados entre os países ricos. São carros elétricos, energia eólica e aproveitamento da água da chuva. Os investimentos em tecnologia de ponta para um mundo mais limpo crescem ano após ano. É o que mostram os repórteres Marcos Losekann e Sergio Gills, na segunda reportagem especial sobre as cidades verdes.
O carro só tem combustível para rodar mais três quilômetros e o dono procura por um poste. É isso mesmo. Nesse caso, é um poste mesmo, e não um posto de combustível. Afinal, o carrinho é movido à eletricidade. Basta conectar o veículo à tomada em um dos 100 postes instalados pelo governo britânico para facilitar a vida dos primeiros dois mil motoristas que decidiram embarcar na novidade. Um carrinho com lugar para duas pessoas pertence ao enfermeiro Luciano Cardoso, um brasileiro que mora em Londres há 12 anos: “o meu carro é zero de poluição. Ele é famoso aqui na Inglaterra por isso. A vantagem é que na Inglaterra você não paga IPVA do carro, você não paga uma taxa de congestionamento que é paga para entrar no centro, você não paga para estacionar no centro. Aqui, no centro, é muito caro para você estacionar um carro. Com meu carro, eu não preciso pagar nada”, afirma. É como recarregar a bateria de um celular. Com uma vantagem: é de graça. Os postes foram instalados pelo governo para incentivar um ambicioso projeto ecológico: ter, até 2030, metade da frota do país movida por combustíveis não poluentes. É um projeto que combina com outro, não menos grandioso: iluminar 100% das casas britânicas com a força do vento - a chamada ''energia eólica''. Tudo isso é resultado da preocupação, cada vez maior, dos britânicos com o futuro do meio ambiente. Uma dor de cabeça que levou o arcebispo de Canterbury, líder da Igreja Anglicana, a produzir um vídeo batizado de ''Deus não produz resíduos''. Pela internet, Rowan Willians espera convencer as pessoas a reciclar o lixo. O que os mais céticos chamam de ''paranóia ambiental'' contagiou os britânicos, principalmente, depois que os jornais publicaram reportagens sobre o risco que vários patrimônios históricos e naturais correm por causa das mudanças climáticas. A denúncia foi feita pelo National Trust - uma ONG com 3,5 milhões de doadores, responsável pela conservação dos principais monumentos construídos pelo homem ou esculpidos pela natureza. Um paredão gigante - ou cliff em inglês -, que cerca quase toda a ilha da Grã-Bretanha, é uma das principais características desse país. É um cartão-postal ameaçado, segundo os ambientalistas, pelas mudanças climáticas. O mar sobe, avança e engole, em média, um metro de paredão por ano. A prova, segundo o conselheiro do National Trust, Phil Dyke, é um prédio que ficava longe do barranco. Agora, resta só metade da construção. A outra parte foi devorada pelo mar. No mapa, Phil Dyke mostra a costa sul da Grã-Bretanha que, segundo ele, está completamente ameaçada. Em busca de soluções, cada vez mais, os britânicos correm atrás de novidades que, às vezes, parecem uma volta ao tempo.
Um condomínio na periferia de Londres não tem ar condicionado, aquecimento central, gás de cozinha nem energia fornecida por companhias de eletricidade. Pode não parecer, mas é modernidade pura. Placas que captam energia solar substituem os vidros das janelas. O gás é produzido com o esgoto e o lixo do próprio condomínio. O recheio das paredes, feito de estopa e papel picado, garante o calor no inverno. No verão, gigantescos tubos no telhado sugam e distribuem ar fresco pela casa. A água é encanada, mas da rua só vem quando não cai do céu. No porão, um tanque guarda água da chuva. “A natureza depende de atitudes assim. Faz parte do mundo moderno”, explica o morador de uma das casas. O primeiro condomínio inteiramente ecológico foi inaugurado há apenas 6,5 anos. A cada dia, vira sonho de consumo de mais e mais pessoas. Afinal, não é em qualquer casa que aparece de repente uma raposa. No jardim suspenso do condomínio ecológico, quem mora é a própria natureza."

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